Por, Pedro Picolotto Ferraro Lima é corretor de seguros especializado no setor de transportes e sócio da Forte Brasil Corretora de Seguros e Gerenciadora de Riscos
De alguns anos
para cá, o termo “inteligência artificial” deixou de ser tema de filme de
ficção científica e passou a fazer parte da rotina de milhões de pessoas, seja
no trabalho, nos estudos ou até mesmo para tirar uma dúvida rápida sobre um
assunto qualquer e procurar uma nova receita. Essa transformação não poupou o
setor de seguros no Brasil, que vem sendo silenciosamente remodelado por essa
tecnologia. Dentre todos os ramos de seguros, as modalidades relacionadas ao
transporte rodoviário, como os seguros de cargas e de frotas, certamente estão
entre as mais impactadas. Enquanto a FenSeg projeta um crescimento de 11,5%
para o seguro transporte em 2025, o que mais chama atenção é a maneira com que
a IA está redefinindo o conceito do que é proteger suas operações de transporte
no contexto brasileiro.
A realidade do
mercado brasileiro é única: ampla dependência do modal rodoviário, altos
índices de roubos de cargas, infraestrutura precária e sem investimentos, além
de jornadas exaustivas de motoristas comumente mal remunerados. É justamente
nesse cenário que a IA revela seu maior valor. Essa tecnologia está servindo
como base para criação de soluções práticas dos desafios genuinamente
brasileiros. Um ótimo exemplo são os sistemas de análise de risco que hoje
operam em tempo real, identificando rotas a serem evitadas considerando não
apenas dados históricos, mas também variáveis atualizadas instantaneamente,
como eventos locais, volume de tráfego e condições da estrada, algo que era
impraticável há alguns anos.
Destacam-se
também equipamentos instalados nos caminhões e carretas, que através de
diversos sensores auxiliam no monitoramento dos riscos e condições do veículo
em tempo real. Esses sistemas permitem intervenções preventivas em termos de
manutenção do conjunto, além de monitorarem os padrões de condução do
motorista, como detecção de sinais de fadiga, distração ou direção imprudente.
Resultados gerados por esse tipo de iniciativa já são expressivos. Diversas
pesquisas e levantamentos com transportadoras de pequeno e médio porte apontam
reduções de até 35% em paradas não programadas e mais de 40% em acidentes de
trânsito relacionados à fadiga. Além do ganho de eficiência em diversos âmbitos
da operação, o que torna as empresas mais competitivas nesse ambiente tão
desafiador, esses números também representam vidas preservadas nas estradas
brasileiras.
Todos esses
fatores têm afetado também a relação entre as seguradoras e transportadoras. O
modelo de “apólice de gaveta” dá lugar ao conceito de seguro como serviço, com
coberturas ajustadas dinamicamente conforme comportamento da operação do
segurado. Para as seguradoras isso significa uma melhor compreensão dos riscos,
o que auxilia na definição de prêmios e coberturas adequadas. Por outro lado,
para as transportadoras que trabalham com operações de níveis de riscos
distintos, essa flexibilidade pode ser um fator essencial para sua
sobrevivência. Todos ganham.
É claro que
ainda existem desafios, como a limitação de cobertura de internet em rodovias,
falta de investimento público em infraestrutura e algumas tecnologias ainda
podem ser consideradas caras, especialmente para pequenas transportadoras. Mas
a tendência é clara e irreversível, à medida que casos de sucesso se
multiplicam e os custos diminuem, a adoção de IA no monitoramento e gestão de
frotas é uma questão de tempo. Como profissional que atua diariamente com
transportadoras de todos os portes, afirmo que estamos apenas no início dessa
transformação. Toda mudança traz oportunidades, e o Brasil tem potencial para
desenvolver soluções adaptadas às nossas particularidades, mas também servir de
modelo para outros mercados emergentes. O futuro do seguro de transportes no
país será digital, preditivo e personalizado, e quem não entender o jogo, vai
acabar desaparecendo.
*O texto publicado não reflete, necessariamente, a opinião deste site.
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